Eric S. dos Santos
Cada
ponto do planeta Terra tem suas próprias características naturais e humanas
(rios, florestas, montanhas, fazendas, portos, cidades) não sendo igual a
nenhum outro lugar. Quando caminhamos para a escola, quando viajamos e olhamos
para além da nossa janela ou de algum lugar muito alto, ou até mesmo quando
assistimos a algum programa de televisão, vemos muitos lugares diferentes com
características naturais e culturais distintas, algumas vezes singulares, o que
torna único cada ponto do planeta. Dizemos então que cada lugar possui uma
paisagem. Mas o que seria, conceitualmente, uma paisagem?
É
muito comum que as pessoas associem o termo com beleza, com algo que chama a
atenção dos olhos quando fitamos, por exemplo, o horizonte, contudo para a
Geografia paisagem vai muito além do belo ou do natural. Para Santos (2008, p.
67-68) “tudo o que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. [...] o
domínio do visível, aquilo que a vista abarca. É formada não apenas de volumes
mas também de cores, movimentos, odores, sons etc.”. A fala de Santos (2008) é
reveladora ao nos mostrar que a paisagem está além do que podemos perceber com
a nossa visão, e está ligado também a outros sentidos. Paisagens tem cheiro e
som assim como em uma grande cidade poluída, onde sentimos o cheiro dos gases
liberados por carros e fábricas e também os sons do tráfego nas ruas e
rodovias.
Podemos
considerar também a paisagem como um conjunto de elementos que podem ser
naturais (montanhas, planaltos, rios, mares, matas) ou humanos, também chamados
de humanizados ou culturais, que são aqueles elementos criados pelo homem
através de seu trabalho (prédios, pontes, rodovias, casas). É devido à natureza
desses elementos que na Geografia as paisagens também são classificadas em naturais e culturais (humanizadas).
Nas
paisagens naturais ocorre a existência apenas de elementos naturais ou a
presença de elementos humanos é muito pouco expressiva, com uma pequena ou
nenhuma presença humana (MODERNA, 2006). Por sua vez, nas paisagens culturais,
ocorre um predomínio de elementos humanizados e uma presença marcante do ser
humano. Mesmo em áreas rurais, campos de cultivo e pastos são consideradas como
paisagens culturais, uma vez que são resultado de uma natureza modificada pela ação humana (LUCCI, BRANCO, 2006).
Mas
se na Geografia as paisagens são assim classificadas, é necessário ressaltar
que nem toda paisagem é totalmente natural (intocada pelo homem), ou totalmente
humanizada (inteiramente modificada). Muitas paisagens são composições de
elementos humanos situados entorno ou próximo a um conjunto de elementos
naturais. Também, com a evolução das
técnicas, tornou-se possível ao homem habitar qualquer parcela do espaço desde os
desertos às florestas. As técnicas também permitiram um conhecimento e
desbravamento crescente da superfície terrestre por parte do ser humano. Por
isso, como recorda Santos (2008, p. 71), “se um lugar não é fisicamente tocado
pela força do homem, ele é, todavia, objeto de preocupações e de intenções
econômicas ou políticas”. A exemplo disso, citamos a floresta amazônica
brasileira. Algumas áreas da imensa floresta ainda são intocadas, contudo, a
região é vista como estratégica para o Brasil e é alvo de interesse de muitos
países, seja como reserva para exploração futura, ou para pesquisa e desenvolvimento
de novos medicamentos e outros produtos lucrativos.
É
comum também se pensar na paisagem como algo estático, que nunca muda, assim
como em uma foto que registra para sempre uma mesma cena. Porém as paisagens
são dinâmicas e mudam constantemente. Estas mudanças podem ser naturais ou antrópicas
(causadas pelo homem).
A
ação erosiva da água, dos ventos, além dos terremotos, vulcões e maremotos
podem causar modificações na paisagem. A atividade tectônica, por exemplo, cria
montanhas ao longo de milhões de anos mudando não apenas o relevo como até
mesmo o clima de um certo lugar. Entretanto as mudanças empreendidas pela ação
humana são muito mais rápidas.
Segundo
Lucci e Branco (2006) as formas presentes em uma paisagem podem mudar através
de construções e reformas, mas também podem mudar de usos quando uma mesma
forma assume diferentes funções a depender da necessidade das pessoas e das
atividades que elas realizam. De todo modo, ações como destruição da vegetação
(derrubada de florestas, por exemplo), a exploração do solo (para mineração,
cultivo e criação) e a utilização de rios e oceanos produzem paisagens
modificadas pelo trabalho humano (MODERNA, 2006).
Para
a Geografia, a importância da paisagem está na possibilidade de entender o
mundo e o lugar em que vivemos através de sua observação e análise. Ao analisá-las,
identificando elementos naturais e humanizados compreendemos a dinâmica das
atividades empreendidas por uma sociedade, suas atividades econômicas, sua
estrutura social – as paisagens revelam muito sobre as disparidades sociais –,
as técnicas e tecnologias dominadas por esta sociedade, o grau de urbanização e
de intervenções na natureza.
Também
podemos deduzir pela análise da paisagem onde a ação governamental é mais
presente e espaços pouco atendidos pelo Estado, como o ser humano se organiza
no espaço – uso e ocupação do solo –, além de diversas características
ambientais (relevo, vegetação, hidrografia, regime climático) e seu grau de
conservação.
Ao
mesmo tempo, na paisagem encontramos elementos (formas) de épocas diferentes que
revelam sobre os hábitos, a cultura e os estilos de vida da época em que foram
construídos, assim como também revelam sobre as técnicas e tecnologias conhecidas
e utilizadas no passado.
É
devido a tudo isso que aprender a analisar a paisagem é um objeto do ensino de
Geografia e que objetiva permitir ao cidadão compreender as dinâmicas
socioespaciais, para melhor intervir na construção de uma sociedade social e
economicamente mais justa e igualitária, com um uso mais racional do solo e dos
recursos ambientais, em uma coexistência mais equilibrada e sustentável com a
natureza, da qual, certamente, nós, seres humanos, também fazemos parte.
REFERÊNCIAS
LUCCI, Elian A.; BRANCO, Anselmo L. Geografia: homem e espaço: a natureza,
o homem e a organização do espaço. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 240 p.
MODERNA. Geografia
- 5ª série. 1 ed. São Paulo: Editora Moderna, 2006. 248 p. (Projeto Araribá).
SANTOS, Milton. Metamorfose do espaço habitado:
fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. 6. ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2008.
COMO
CITAR ESTE TEXTO:
SANTOS, Eric S. dos. O Conceito
de paisagem. Geographia Mundi, Serrinha,
2015. Disponível em:<http://geomundieduc.blogspot.com/2015/08/o-conceito-de-paisagem-texto-de-carater.html>. Acesso em: (coloque a data de seu acesso. Ex.: 12
ago 2015).
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